2) Modelo de Mensuração de Preservação em Boa Vista de Ramos
   
 

O padrão de posse e uso da terra ocorrido na Amazônia é a repetição das mesmas conseqüências de outras regiões brasileiras, impondo dificuldades de reprodução social às unidades de produção familiar, adquirindo a pecuária como um modelo eficaz de rendimentos para os pequenos agricultores. Portanto, há a necessidade de se pensar em mudanças nos modelos de produção tradicional, baseadas em formas mais adequadas de uso e manejo de recursos naturais, obedecendo a uma alternativa de aproveitamento social e econômico da terra com baixos riscos de degradação ambiental.

Sistemas de produção mais equilibrados geram benefícios para toda a sociedade, tais como a melhoria da qualidade do ar, água, solos e conservação da biodiversidade. Esses benefícios já são denominados de "serviços ambientais", mas em quase todas as circunstâncias não são valorados pelo mercado, não sendo possível inserir os custos ambientais no preço final de um produto. Sendo assim, o atual cenário de desenvolvimento rural da Amazônia expõe uma demanda por uma política que disponibilize mecanismos e incentivos econômicos capazes de tornar atrativo os investimentos em sistemas de produção mais equilibrados.

O município de Boa Vista do Ramos (BVR), está situado às margens do rio Paraná do Ramos, distante a 270 km de Manaus em linha reta e pertence à micro região do baixo Amazonas. A população de BVR é de aproximadamente 11836 habitantes (Zona urbana - 889 famílias) e na (Zona rural - 1481 famílias). Esta maioria populacional (rural) tem na agricultura a sua principal atividade econômica, sendo os cultivos de hortaliças, frutíferas e cultivos tradicionais (roça, milho) as principais espécies cultivadas. Atualmente, a atividade pecuária tem se destacado bastante, o que tem proporcionado o aumento do desmatamento e das queimadas.

A prática de corte e queima como método de preparo de áreas para plantio e estabelecimento de pastagens é, sem dúvida, a principal causa da perda de solos férteis e produtivos. Esta prática é comum na Amazônia e vem se intensificando a cada ano. Com este projeto, pretendemos criar a base para um novo modelo de produção e de ocupação da terra na Amazônia, atingindo agricultores familiares que trabalham a terra de forma tradicional, com desmatamento e fogo, e esperam auxílio para o desenvolvimento de novas formas de produção.

Para isso, está sendo montada uma estratégia de atuação que priorizará (inicialmente) um conjunto de 10 a 15 famílias locais na implementação de sistemas produtivos permanentes e demonstrativos que substituam gradualmente suas atividades predatórias. Os agricultores trabalharão sob um novo modelo de desenvolvimento, no qual receberão um incentivo para a implantação de sistemas produtivos integrados na sua propriedade. Esta "poupança", somada aos lucros da produção, deverá cobrir os custos com a produção. O objetivo desta proposta é implementar sistemas permaculturais nas comunidades rurais do município de Boa Vista do Ramos, tendo como ferramenta base a participação ativa da comunidade para estabelecer sistemas produtivos e ecologicamente sustentáveis.

O Projeto desenvolverá a sua atividade de extensão comunitária no Município de Boa Vista do Ramos, na Ilha das Abelhas, onde já vem sendo desenvolvidas algumas ações promissoras ligadas ao desenvolvimento sustentável por parte de Fernando Oliveira, com o Projeto Iraquara (criação de abelhas indígenas sem ferrão) que tem um amplo reconhecimento por parte da comunidade local. Para a realização das atividades é necessária a construção de uma estrutura física (Sede Local), que servirá para acomodação da equipe, realização de cursos e oficinas, bem como para o depósito seguro dos equipamentos adquiridos (voadeira, motor HP, gerador e ferramentas de campo). A dinâmica da logística para a realização das atividades previstas, envolvem o deslocamento da equipe para Boa Vista do Ramos, sendo o acesso ao município via área e fluvial e o deslocamento da sede do município para as comunidades a serem envolvidas nas ações somente podem ser realizadas via fluvial através da utilização de pequenos botes (voadeiras).

Este é o nosso Projeto Piloto em comunidades rurais do interior do estado do Amazonas, sendo que esta ação será iniciada com a realização de um diagnóstico (na permacultura é chamado estudo de sítio), onde são coletadas informações sobre os aspectos sociais, econômicos e ambientais da região a ser trabalhada. Depois da coleta das informações é possível de forma mais segura e confiável iniciar todo o planejamento de atividades de campo, que envolve desde a construção da base de campo para acomodação de equipe, o armazenamento dos equipamentos / insumos e a sistematização das atividades práticas. Os trabalhos serão desenvolvidos in loco com um grupo de 10 a 15 famílias a serem definidas após a realização do diagnóstico. Estas famílias farão parte de um grupo base de pesquisa aplicada e participativa que atuará em conjunto com a equipe do projeto.

Os produtores participantes do programa receberão orientação técnica e acompanhamento técnico na implementação e desenvolvimento de suas atividades produtivas. Para o estabelecimento dos sistemas produtivos, os custos iniciais para o estabelecimento do projeto serão de responsabilidade do projeto, o produtor disponibilizará apenas a sua força de trabalho. Algumas metas terão que ser cumpridas, por parte dos agricultores, para a obtenção do incentivo; por exemplo: em seis meses o agricultor terá que ter estabelecido em sua propriedade uma criação de minhocas para a produção de húmus (que utilizará na sua própria horta), terá que ter um sistema de compostagem com a produção de uma tonelada de composto, etc... Sendo que durante todo este processo de construção haverá o acompanhamento por parte dos técnicos capacitados em Permacultura.

Achamos que um apoio aos produtores durante três anos seja o ideal. E que o estado de preservação / recuperação das áreas utilizadas comprovem a eficácia do Projeto. Entre os serviços ambientais prestados pelos agricultores que irão aderir ao Projeto estão: redução do desmatamento; absorção de carbono da atmosfera; conservação da água e do solo; preservação da biodiversidade e o estabelecimento de um sistema produtivo sustentável. O programa será a ferramenta mais importante para conter o uso do fogo, alterando profundamente os modos de produção e de ocupação da terra na região.
Logo, os produtores familiares da Amazônia adquirem um novo papel perante a sociedade, pois deixam de ser apenas fornecedores de produtos primários, adquirindo um caráter multifuncional que associa produção econômica com conservação do meio ambiente e prestação de serviços ambientais. Além de apoio financeiro para a formação dos sistemas produtivos integrados, os agricultores receberão assistência técnica especializada e capacitação em Permacultura. O que se pretende é demonstrar que é possível estabelecer sistemas produtivos com um mínimo de impacto possível.